segunda-feira

Sobre você.

Pus a cabeça no travesseiro, fechei os olhos. E esse é o momento ideal para se começar a pensar, exatamente quando você quer esquecer tudo e só dormir. Dormir? Não existe isso. Ao menos não tem existido para mim. O que existe é pensar sobre o meu dia, que me leva a pensar sobre o meu almoço, rolar para o outro lado da cama pois me cansou o braço, que me faz pensar em alguma atividade que deixei de fazer que devo fazer sem falta no dia seguinte e, opa, estou pensando nele. É, nesse "nele" que você está pensando. Acabou há não sei quanto tempo mas, quem liga, sua mente está preparada para pregar uma peça em você. É como se dissesse "Quer esquecer o que passou? Não enquanto eu estiver no comando". Eis que então, automaticamente, cenas de nossos dias juntos vêm como se tivessem acontecido horas atrás. Um beijo, que demorava a acontecer mas era grandioso quando acontecia. Um riso, que não demorava muito tempo para acontecer. Uma discussão, que nunca era pessoalmente pois pessoalmente ela nunca durava. Um toque, aquele toque. Até chegar ao momento em que os toques se extinguiram e acabaram. Não é como se eu escolhesse pensar ou não pensar no que aconteceu entre nós, simplesmente penso e, do nada, o pensamento me foge com a rapidez de Harry Houdini escapando de uma corrente. Eu não ia reclamar se fosse com a rapidez de uma troca de canal. 
Já ouvi dizer que términos de relacionamentos são mais complicados de se superar quando não acontece por uma briga ou desentendimento. Talvez essas pessoas estejam certas, mas quem é o especialista? Existe um padrão? Aposto que quem criou a teoria nunca se apaixonou na vida.
Meu relacionamento mesmo não tinha um padrão. E foi um relacionamento tão estranho. Namoro? Ficada? Um lance de pele? Romance de verão que durou quatro estações inteiras? Nunca entendi o que foi aquilo. Enlouqueci diversas vezes tentando entender, mesmo que no fim de todas essas vezes eu dissesse que não precisava entender, só sentir. Ninguém pode me culpar por falta de sentimento. 
Com a cabeça outra vez deitada no travesseiro, um sorriso triste me aparece nos lábios. Que merda de saudade doída. Saudades de algo que não teve tempo de ser um algo. Ou talvez não teve vontade de ser mais que um algo. Com a cabeça no travesseiro outra vez mais, uma lágrima desce no meu olho, lembrando da última palavra trocada, que foi onde percebi que não existe mais chance para nada, talvez nem para uma amizade. Morreu. Simplesmente aconteceu. 
As peças da minha mente vão continuar, tenho certeza, então é melhor eu me preparar para não ser pega com tanta surpresa. Vou lembrar do seu aniversário. Vou passar na frente daquela cervejaria e olhar automaticamente para o exato local em que nós nos sentamos aquele dia. Vou ouvir a música que ouvimos tantas vezes e rir lembrando de quando você admitiu que lembrava de mim ao ouvir ela também. 
Antes de pôr a cabeça no travesseiro outra vez, olho o celular e ali estava uma mensagem de um outro alguém que me faz rir. Isso me fez sorrir. Não, não é um substituto para ele, não é assim que a banda toca. Mas é, na verdade, uma centelha de esperança para mim. Esperança de que aquela tristeza está finalmente diminuindo e eu vou poder outra vez deitar no travesseiro, fechar os olhos e, quem sabe, só dormir, afinal.