quarta-feira

My Parties

"Hey everybody, let me give you a toast.
This one's for me, the host with the most ...
"


Samuel Stevens sempre prezou pela sofisticação em suas festas. Tratava sempre de contratar os melhores garçons, a melhor equipe de buffet, decoradores e animadores de festa, tudo dentre o melhor e mais caro que poderia proporcionar aos seus convidados. Conhecido por sua irreverência e criatividade, Samuel recebia convites das mais diversas celebridades para promover suas festas, e recusava todos. Catherine Zeta-Jones quase o convenceu a promover seu 40º aniversário, mas o homem gosta de exclusividade e afirmou não abrir exceções a ninguém para evitar briga.
No último 14 de fevereiro, dentro do baladado salão de festas do Kodak Theatre em Los Angeles, realizava-se a festa em comemoração ao Valentine's Day. Todos os maiores artistas do mundo da música e do cinema confirmaram sua presença para ninguém fazer feio diante de ninguém. Todas as mulheres desfilavam com seus vestidos das mais diversas grifes e estilistas, homens davam um breve sorriso e respondiam aos jornalistas. Mas, entre a fita de segurança e uma multidão desesperada por uma foto, Henry Marshall amarrava a cara para seu colega de trabalho e fotografo nas horas vagas, Charles Bakler.
_ Pode me explicar mais uma vez o que eu estou fazendo aqui, Charles.
_ Simples, se tu ainda quiseres trabalhar para a tua ex mulher, vai fazer umas entrevistas ou escrever um belo artigo sobre essa festa, que promete ser a melhor do ano, desbancando o Grammy, Oscar e o diabo à quatro.
_ Eu deveria ser mais um babando o ovo do babaca do Samuel somente por que ele consegue reunir as mulheres mais lindas da América em um único lugar?
_ Ou tu poderias simplesmente fazer o que eu estou te dizendo, se quiseres ter o que comer na semana.
As palavras de seu amigo não o desesperavam, simplesmente lhe davam prazer. Não temia não ter o que escrever. O assunto estava ali estampado na cara de todos, o artigo acabaria por se escrever sozinho no final das contas. Era o que dava raiva nos colegas de trabalho de Henry: Ele não se esforçava, escrevia qualquer coisa e era o jornalista mais bem pago do LA Times.
As celebridades passavam animadas entre as fitas vermelhas, lentamente, uma a uma. "Como uma procissão", pensava Henry, segurando-se para não rir. Já conseguiram o arrastar até lá, não custava fazer um pouco do seu trabalho.
Eis que o anfitrião da festa aparece. Desce de sua limousine branca, acompanhado por duas modelos, atuais capas da revista de Hugh Hefner. Samuel trajava um terno azul escuro de seda chinesa, contrastando com o vestido azul claro de suas acompanhantes. Henry começara então a se animar: Tinha sua matéria em mente em questão de segundos, sabia exatamente o que fazer para montá-la. E a primeira coisa que deveria fazer era falar com Samuel Stevens.
Caminhando imponente em direção ao seu alvo, o jornalista retirava sua arma do bolso, o seu gravador. Tinha apenas uma chance de "atirar", e seria exatamente quando o anfitrião passasse pela porta. Charles, experiente e treinado, corria atrás de seu colega sem questionar. Anos de ofício lhe ensinaram que, seja lá o que passe pela mente de Marshall, é inexplicável e sempre soa idiota. Mas não é que a merda da SEMPRE certo?
"Hora do show!"
_Hey Samuel! Henry Marshall, LA Times. Qual é a sua satisfação em conseguir reunir as mulheres mais lindas da America em um mesmo lugar?
_Vejam se não é o famoso jornalista Henry Marshall! É um prazer tê-lo em minha festa...
_Então você admite que é gay?
Samuel para de súbito. Sua cara de espanto é o que o denuncia, dando oportunidade para Charles tirar todas as fotos que puder. As acompanhantes de Samuel ficam espantadas de início, ultrajadas em seguida, e então irritadas com sua falta de reação. Henry estende seu cartão pra Samuel, e diz:
_Ligue quando estiver preparado para dar sua declaração... A propósito, bela festa!
Os jornalistas saem, deixando espaço para os outros colegas de profissão. Henry mal contendo seu riso, Charles o olhando com desaprovação, mas também contendo o riso.
_Você não devia.
_Deveria me agradecer por salvar seu almoço.
_Você sabia, não? Fez de propósito.
_Um homem que faz tanta pose e foge na primeira pergunta, que foi direta, tem muito a esconder.
_Já que é tão esperto, deve saber também que teremos problemas...
_Pelo contrário. Se Samuel fosse esperto usaria a media ao seu favor, posando de coitado ou me acusando de calúnia. Ele foi muito bem treinado para não deixar transparecer, mas eu conheço esse treinamento de longe. Viu a reação dele? Acredite, ele vai nos procurar. Essa história não acabou ainda.
_E você se orgulha de ter começado.
_Como sempre.



Trilha sonora: My Parties - Dire Straits